imagem 2023 09 29 192451365 xnt6 - conheça Luality, streamer brasileira que faz sucesso com desafios excêntricos em games

Atire a primeira pedra quem nunca ficou tão envolvido com um jogo — ou com uma franquia de jogos — que completou todos os desafios possíveis (e até criou seus próprios). Zerar o game na maior dificuldade, com apenas uma arma ou utilizando um tapete de dança como controle. Foi isso que Luana Bueno, a brasileira (ou francesa disfarçada, como dizem seus seguidores que pediram para que eu inserisse essa piada) conhecida pelo nickname Luality e que faz transmissões ao vivo em inglês, fez com diversos de seus jogos favoritos e acabou se tornando um fenômeno.

A criadora de conteúdo, no entanto, tem muito mais do que seus recordes absurdos para contar.

Hoje com 95,1 mil seguidores na Twitch e 70,2 mil inscritos em seu canal do YouTube, a streamer se viu no centro das atenções após seu vídeo derrotando o chefão Nameless King, de Dark Souls 3, com um tapete de dança furar a bolha. Mas seu interesse por jogos eletrônicos começou há muitos anos: ela ficava atrás da cadeira do seu pai, com medo, para vê-lo jogar o primeiro jogo da franquia Diablo.

Em uma conversa de uma hora e meia, Luana e eu conversamos sobre sua criação, sua crescente paixão por jogos, falamos muito de Baldur’s Gate, Guild Wars, estudos paralelos, sua paixão por coelhos e RPGs e tudo o que a levou a decidir pela carreira de criadora de conteúdo.

Contents

“Pai, bota Diablo 2!”

O primeiro contato de Luality com jogos eletrônicos aconteceu de uma forma que não é estranha para muitas jovens jogadoras: ela foi introduzida a este universo por seu pai e seus primos ainda na infância. A mineira contou que seu pai era muito protetor e, ao ver seu interesse por games, optou por presenteá-la com jogos de vez em quando para evitar que a filha saísse demais de casa. “E funcionou, né”, disse ela, rindo. Sendo filha única, ela passava muito tempo com seus parentes de idades similares e desenvolveu um gosto por consoles de mesa por tabela, diz ela. Mas a conexão com consoles como PlayStation foi apenas passageira e seu amor por games de computador não demorou a florescer.

Um dos jogos que a ajudou a desenvolver certas habilidades foi Guild Wars 2, o RPG online da NCSOFT que estreou em 2012. Ela me contou que foi líder de guilda por muito tempo e chegou a conhecer diversos amigos de outras regiões do mundo, alguns com os quais ela mantém contato até hoje. Por mais que seja brasileira, essa relação de intercâmbio virtual que os jogos proporcionam a incentivou a aprender inglês por conta própria e, hoje, prefere tanto jogar como se comunicar neste idioma.

Ainda que ela estivesse imersa na comunidade virtual, a intenção de fazer transmissões ao vivo nunca havia passado pela sua cabeça – e ela nem possuía muitas referências para isso.

“Um dos meus amigos de videogame falou: “É bem legal jogar com você. Por que você não tenta fazer stream?” Eu nunca assisti a streams na vida, apesar de eu ter jogado videogame a vida inteira. Eu nem entendia porque alguém assistiria a uma stream. E a minha primeira resposta para ele foi: “Não, você tá maluco?”

Além do fato de que Luality não tinha muita ideia do propósito das lives, ela também tinha receio de se expor em um ambiente no qual a maioria das pessoas eram “grosseiras”. O primeiro impulso veio somente quando ela estava “sem cabeça para continuar estudando para o concurso público” após algum tempo sem ver progressão em sua área de formação, Biologia, a qual dedicou boa parte de sua vida juntamente com os games.

“Eu não tinha webcam, mas eu tinha um laptop antigo com Skype”

A criadora de conteúdo contou que, na época, seu único equipamento era um notebook antigo com Skype instalado – e foi exatamente isso que ela utilizou para sua primeira transmissão ao vivo. “Foi a maior gambiarra”, diz ela.

Em sua primeira live, ela conta que cinco usuários estavam acompanhando sua gameplay de League of Legends com seu amigo que a incentivou neste caminho. Um desses telespectadores foi quem a ensinou a inserir características como alertas em sua stream e a motivou a continuar com uma doação para comprar uma câmera de verdade.

A essa altura do campeonato, ela estava doando quase que todo o seu tempo para Guild Wars 2, mas decidiu que era hora de mudar após mais de 15 mil horas investidas. Ela diversificou seu conteúdo e se inscreveu para se tornar Parceira da Twitch, que significa ser aceita no clube de criadores de conteúdo oficiais da plataforma.

Ela começou a jogar Dark Souls 3 e, após um tempo, decidiu por um estilo de conteúdo que mudaria sua vida.

“Eu joguei Dark Souls 3 com o tapete de dança utilizando um personagem nível um. E acho que meu vídeo do Nameless King tem 4 milhões de visualizações e isso fez com que muitas pessoas me conhecessem como a “menina do tapete dança”. Eu joguei muitos games dessa forma, Bloodborne, Elden Ring… mas acabei cansando porque tinha feito demais e acabei até machucando o meu pé.”

Mesmo com esse infortúnio, Luality encontrou novos desafios e novos controles excêntricos para tornar suas transmissões ao vivo divertidas e únicas. “Quando eu gosto do jogo, eu quero jogá-lo de várias formas diferentes”, afirmou. Mas ela deixou claro que não se identifica como uma “prodígio dos games”, e sim como alguém bem persistente. “O início é sempre muito difícil, mas depois que pego a manha fica fácil”.

“Meu pai comprou Baldur’s Gate 2 só porque a caixa era bonita”

No início do texto, quando comentei que falamos muito sobre Baldur’s Gate, eu não estava exagerando. Mas o amor de Lua pela franquia de jogos de RPG não veio somente após o sucesso do terceiro game; ela, na verdade, tem uma longa e bonita história com Faerûn.

Ela contou que, quando tinha cerca de nove anos de idade, seu pai chegou em casa com a caixa física de Baldur’s Gate 2, que estava toda traduzida para o português e possuía um gigantesco manual. Quando abriu o game pela primeira vez, porém, percebeu que o jogo estava todo em inglês e não possuía legenda ou dublagem; mas isso não a fez desistir do jogo. Ela até pedia eventuais ajudas para seu pai, que sabe inglês, mas o tempo gasto neste RPG a fez aprender quase tudo sozinha.

“Eu sempre fui uma pessoa muito comunicativa, sempre gostei de falar muito e querendo ou não na internet tem um mundo inteiro e o mundo inteiro fala em inglês. Eu meio que aprendi na marra e tudo o que tinha relação com games era em inglês. Quando eu comecei a fazer stream, eu falava com a minha guilda em inglês. Então, hoje, é mais fácil para mim jogar em inglês do que em português.”

Mas o jogo não a marcou somente pelo aprendizado: foi com ele que ela se descobriu uma amante de RPGs.

“Tinha alguma coisa em Baldur’s Gate 2; eu simplesmente amava aquele jogo. Eu tinha uma curiosidade tão maluca com esse jogo e conforme eu fui jogando outros games, percebi que os que eu realmente amo são os RPGs.”

Tudo isso culminou para que Baldur’s Gate 2 se tornasse um de seus jogos favoritos da infância – e todos nós sabemos o que é ter crescido apegado em um game. Mas ver um de seus títulos favoritos renascer por um de seus estúdios favoritos — Lua também é fã dos jogos Divinity: Original Sin — é uma sensação inexplicável. “Eu tinha até perdido a esperança de ouvir novamente sobre os personagens”, diz ela.

“Eu não consegui jogar no começo porque comecei a chorar muito.”

Mesmo jogando repetidamente o acesso antecipado, Lua não cansou do game em momento algum e continuava sonhando com o lançamento completo do terceiro título de Baldur’s Gate. Enquanto publicava diversos vídeos relacionados com suas jogadas criativas, ela acabou chamando a atenção de dois desenvolvedores do game que a convidaram para ir até a empresa Larian Studios, em Quebec, Canadá, para testar uma versão beta do game final. Mas os convites não pararam por aí: ela foi convidada para participar do Painel do Inferno, o grande evento que antecipou o lançamento de Baldur’s Gate 3.

Ela contou que esse foi um dos melhores dias de sua vida — tanto porque estava presenciando diversas novidades sobre um dos games que mais esperava, como porque estava ao lado de artistas que acompanha e aprecia há anos. Inclusive, uma de suas jogadas mais criativas foi reconhecida e mencionada por Swen Vincke, diretor do estúdio, na época.

“Durante os anos, muitas pessoas falaram que o que eu faço é legal, mas nunca tinha tido um reconhecimento de uma empresa desse modo. O jeito que eles interagem com a comunidade deles é bem semelhante com a forma pela qual os fãs interagem com eles — é recíproco.”

Enquanto na viagem, ela pôde testemunhar também em primeira mão a ínfame cena de sexo com Halsin e Astarion e outras novidades exibidas aos convidados. O sonho que Lua tem vivido como criadora de conteúdo, fã e amante de RPGs mostra como, às vezes, nossa paixão por algo pode nos levar a lugares inimagináveis.

Dia após dia, ela reinventa seus desafios e busca novas formas de aproveitar seus jogos favoritos. Atualmente, ela está direcionando sua criatividade para Cyberpunk 2077, o game que foi reformulado após o lançamento do DLC e da atualização 2.0.

Lua se encontrou na criação de conteúdo para jogos variados, mas sempre retorna aos RPGs que moram em seu coração. Fazendo transmissões ao vivo todos dias, ela mantém uma forte, global e bastante simpática comunidade de “bunnies” (como chama seus subs da Twitch para fazer uma referência aos animais que tanto ama) em um dos poucos ambientes saudáveis que vi em meus anos consumindo Twitch.

E, ah, antes de terminar, preciso revelar um segredo: ela realmente é francesa, só não está pronta para revelar ainda.


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Fonte: Via IGN