O final da 3ª temporada de Cobra Kai deixou um gancho absurdo, digno de “Melhor Série Despretensiosa Teen, Mas Que Une Gerações” que a série de Karatê Kid da Netflix já provou ser. Ela é capaz de agradar fãs dos filmes originais e conquistar uma nova molecada, que certamente quer aprender karatê, do jeitinho que o pessoal tanto quis nos anos 1980.
Em breve recapitulação, Kreese, dos vilões mais carrascos da atualidade no entretenimento, sugere um ultimato a Daniel LaRusso e Johnny Lawrence: quem perder o torneio regional de caratê no vale, deverá sumir do mapa. Ainda, o co-fundador do Cobra Kai decide fazer uma ligação para um velho amigo — o alucinado Terry Silver, com quem lutou no Vietnã e fundou dojôs de karatê no passado.
Essa aliança implacável, o retorno de um vilão antigo (de Karatê Kid 3) e a união inevitável de Johnny e Daniel, que foi constantemente alimentada durante Cobra Kai, sinalizavam o ápice da série por vir nesta quarta temporada, que estreia nesta sexta-feira (31). O IGN Brasil pôde assistir aos 10 episódios antecipadamente e garante, com certa expectativa quebrada: o maior potencial ainda não foi mostrado nesta, que é a temporada mais morna até agora.
Mas, calma. O alto nível de Cobra Kai está intacto, só não chegamos lá onde eu jurava de dedinho que chegaríamos agora. E eu falo sério quando digo que ela é, sim, uma das séries mais divertidas e descompromissadas da atualidade, características essas que se mantém.
Dá para adiantar que a reapresentação de Terry Silver não tarda: a exata primeira cena é uma amostra da excentricidade do empresário ricaço que manipulou Daniel-San ao seduzi-lo para o lado Cobra Kai da Força. É um grande feito ter trazido Thomas Ian Griffith, o ator original, de volta, uma vez que ele estava afastado da atuação há 14 anos.
O “novo” Silver começa acanhado, desdenhando as suas origens, por assim dizer, ao lado de Kreese no Cobra Kai. Mais rico do que nunca e um apreciador de vinhos caros, ele é retratado como um sugar daddy. Simplesmente perfeito. No mais, ele atua mais como coadjuvante de John, uma sombra que não só respeita o amigo, como o teme. Mas o bom e velho Silver vai se soltando e mostrando as conhecidas garras.
Do lado Miyagi-Do e Presas de Águia, o que já esperávamos é concretizado: nunca que LaRusso e Lawrence vão entrar em um consenso de como ensinar seus alunos. A graça está justamente na disparidade entre os eternos rivais, que estão mais amigos do que nunca, mas sem esquecer da rivalidade.
A sacada está em como, apesar de dois cabeças-duras incuráveis (Lawrence, mais escancarado; LaRusso, menos explícito, mas que não deixa de ser), um aprende com o outro — ou melhor, um complementa o outro. Ao longo desta quarta temporada não só eles passam a enxergar isso, como seus próprios alunos.
Vemos, portanto, antigos Miyagi-Do’s flertando com o Presas de Águia e vice-versa. E o ciúme correndo solto em meio às mudanças. Esta leva de episódios, aliás, consiste em muitas mudanças. Entra Kenny, garoto novo no colégio local que tem dificuldades para se encaixar e meio que repete o papel de Miguel Díaz lá na primeira temporada. Sim, o bullying, constante em Karatê Kid e Cobra Kai, volta forte.
Kenny é uma arriscada adição em meio a personagens estabelecidos, mas triunfa pela relação construída com Robby — com quem, confesso, não simpatizava muito até aqui. O filho de Johnny Lawrence, abandonado por todos e rebelde justificado, ganha uma posição de mentor e liderança interessante de acompanhar.
Mas a temporada mesmo é de Eli “Hawk” Moskowitz, nosso Falcão. Não é de hoje que o rapaz se mostrou o mais fascinante dentre os personagens secundários de Cobra Kai, entrando aqui, indiscutivelmente, para a “Primeira Divisão” de protagonistas. É o arco mais bem construído, que vai de perda e retomada de confiança ao lugar mais alto que ele poderia voar.
Defino a quarta temporada de Cobra Kai em três palavras: traições, retornos e bullying. Não dá para confiar em mais ninguém (se é que já deu um dia); Silver comanda a fila das “Voltas dos que Não Foram” (sem entregar muito, personagens esquecidos repentinamente ganham uma segunda chance, além de outras surpresas); vemos crianças e adolescentes que sofrem nas mãos de valentões e oprimidos que viram opressores.
Não espere uma cena de tirar o fôlego como a briga na escola ou a confusão geral na casa dos LaRusso nesta 4ª temporada — o foco está em resolver os problemas no tatame, no torneio regional. Tais lutas são eletrizantes e imprevisíveis de acompanhar: apostei (comigo mesmo) todas as fichas de que um ganharia, mas foi o outro quem saiu vitorioso. Essa imprevisibilidade é muito bem-vinda.
Cobra Kai deixou de ser centralmente sobre Miguel Diaz e seu sensei, Johnny Lawrence. O time ganhou novos nomes, os atores antigos já não são mais crianças e denotam traços de jovens adultos, e o caminho a ser percorrido se mostrou longo — os criadores avisaram que a próxima quinta temporada não será a última.
Nunca foi só sobre aprender a lutar — embora a porradaria coma solta e seja o meio para resolver todo e qualquer problema. As franquias Karatê Kid e Cobra Kai sempre foram sobre sermos a melhor versão de nós mesmos apesar das adversidades e de encontrarmos nosso próprio rumo. Já diria o Sr. Miyagi: “Bonsai tem raiz forte. Você também. Ele escolherá como crescer. Você também deve fazer isso”.
Enquanto os personagens de Cobra Kai parecem seguir os aprendizados do Sr. Miyagi, a própria série dá os primeiros sinais de cansaço para chegar onde quer. A pergunta não é mais se teremos uma conclusão épica, digna e memorável, mas sim quando. “Ao fazer uma viagem, é melhor saber onde ela termina… ou, então, é melhor ficar em casa.”
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