Oppenheimer não é apenas mais um filme de Christopher Nolan. Afinal, é o primeiro filme do diretor na sua nova parceria com a Universal — que ele assinou após problemas na distribuição de Tenet com a Warner. Além disso, claro, por compartilhar a data de lançamento com Barbie, a biografia do cientista considerado o pai da bomba atômica acabou ganhando ainda mais projeção.
Mas afinal, o filme é essa explosão toda ou é apenas muito barulho por nada?
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Olha A Explosão
Depois de muitos conceitos de física aplicados de maneira prática em Tenet, Nolan concentra Oppenheimer em seu personagem principal — que, por acaso, é físico. Falando na ciência, não é necessário entender nada de conceitos científicos para entender a história. Embora o filme retrate alguma das mentes mais brilhantes da ciência, não é apresentado ao espectador nenhum conceito ou cálculo que seja preciso entender para a trama. Não há necessidade de saber o que é entropia, por exemplo. Basta assistir ao filme.
Embora ainda seja, claro, um filme de Christopher Nolan, com as grandiosas cenas sem uso de computação gráfica, a história nem sempre linear e alguns recursos visuais para sublinhar o psicológico dos personagens, agora, tais artifícios se apresentam de uma maneira muito mais natural do que em seus últimos três filmes pela Warner.
Talvez por já ser, por si só, uma história grandiosa, o diretor parece se conter mais do que anteriormente e, com isso, acaba apresentando um filme grandioso — em quase todos os sentidos.
Um dos pontos altos do filme é a escolha do roteiro de não mostrar nada da 2ª Guerra Mundial. Dessa forma, é mais fácil esquecer os horrores causados pelo grupo de pessoas representados em cena — embora esses horrores não sejam ignorados (ainda bem), aparecendo como traumas do personagem principal.
Já um dos pontos baixos do roteiro, dentro das três horas de filme, é não conseguir se aprofundar mais nas próprias complicações que apresentam sobre o personagem principal, interpretado por Cillian Murphy. Em muitos momentos, nós vemos complexidades do personagem — seja seu passado na Europa, suas ligações com o Partido Comunista, ou até mesmo os diversos affairs que teve –, no entanto, nada disso é devidamente explorado, e são passagens que acabam servindo mais para validar o julgamento de caráter do final do que de fato explorar as nuances do personagem.
Atuações Nada Bombásticas
Oppenheimer tem um dos melhores elencos que Nolan já teve em seus filmes. Além do já citado Murphy, o longa conta com Robert Downey Jr., Matt Damon, Emily Blunt, Florence Pugh e outros grandes nomes. Infelizmente, no entanto, todos com atuações sem muito brilho.
É fato que a direção de Nolan nunca privilegia o talento dos atores — notavelmente, apenas o Coringa de Heath Ledger conseguiu grande destaque num filme do diretor. O filme sobre o criador da bomba atômica não foge à regra em que a direção chama mais atenção do que qualquer atuação — o que não chega a ser um problema, pois nenhum ator é ruim de fato, mas seguem a regra que, por melhor que o ator seja, provavelmente sua melhor atuação não acontecerá dentro de um filme do Nolan.
Porém, há papéis que poderiam explorar melhor os atores escalados, como é o caso principal das personagens femininas da produção. Florence Pugh aparece com muita relevância na trama, mas logo é escanteada para virar apenas uma motivação para um conflito que se quer demora a ser resolvido. Emily Blunt, por sua vez, consegue pelo menos ter momentos de destaque ao ser o contraponto do marido Oppenheimer — mas ainda de maneira muito limitada.
Robert Downey Jr. não é muito diferente do que nos acostumamos a vê-lo como Tony Stark e, em boa parte do filme, com exceção à parcela final do seu personagem, numa grande cena de descontrole tentando não perder a compostura, ele não parece ter saído do personagem da Marvel.
O Brilho Nuclear
Se as atuações não são nada além de regulares e boas, Nolan consegue brilhar na direção. Sem muita firula — embora com o começo abusando das montagens visuais para compor o psicológico de Oppenheimer, o diretor não tenta reinventar a roda e faz um trabalho mais contido, mas não menos genial, na maior parte das longas três horas de filme.
Lógico, o grande trunfo do filme está na cena onde a equipe do Projeto Manhattan assiste de camarote a explosão da primeira bomba nuclear feita nos Estados Unidos. É realmente impossível descrever o deleite cinematográfico que essa cena proporciona. O que posso dizer é que o filme retrata essa abundância de poder de forma sutil e quase poética, nos fazendo esquecer de toda a tragédia que aquele momento gerou. Fosse o filme apenas isso, ele já se pagaria.
Outro grande trunfo do filme é a trilha sonora original composta por Ludwig Göransson, conhecido pela trilha de The Mandalorian e outras. Com uma mistura de instrumentos e sintetizadores, a trilha faz o filme ficar mais emocional do que ele realmente é — ajudando a completar algo que o roteiro não fez.
O que o roteiro também não consegue sustentar é a duração incrivelmente longa do filme. São três horas de duração que acabam não sendo bem aproveitadas. As duas primeiras horas passam rápido, culminando na grande cena da bomba. A terceira hora, literalmente sobre o efeito pós-bomba, acaba sendo bem lenta e com pouco brilho.
As cenas em preto e branco são um espetáculo visual com função narrativa muito específica e acertada. Elas funcionam muito bem no contraponto com as cenas coloridas e ficam ainda mais bonitas numa tela IMAX — se for possível, não deixe de ver esse filme na melhor tela disponível na sua região, já que quase ninguém conseguirá assistir com a qualidade que Nolan imaginou.
Oppenheimer é o filme menos Nolan de Christopher Nolan — e isso está longe de ser ruim. Com um começo, meio e fim bem definidos (e não necessariamente lineares), o diretor consegue criar uma atmosfera onde a gente quase esquece os horrores da grande criação que acompanhamos em cena. Por mais que as atuações e o roteiro não sejam brilhantes, o diretor consegue segurar as rédeas da produção e entregar uma sequência de explosão que com certeza marcará o cinema.