Imprevisível. Palavra nenhuma pode descrever melhor a jornada do jogador em It Takes Two. Nunca sabemos quais serão as novas habilidades de Cody e May na fase seguinte ou que enigmas surgirão. Existirão desafios, obviamente, mas não há como se preparar. Resta ao jogador se adequar às realidades conforme são apresentadas.

Honestamente, todas as pessoas que estão cansadas de jogos enormes com missões repetitivas precisam considerar dar uma chance para esse simpático game de plataforma, que abraça elementos dos mais variados gêneros. Atirar, pilotar avião, lutar, regar plantas; tudo é possível no novo lançamento do estúdio Hazelight, fundado por Josef Fares.

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Por alguns segundos, It Takes Two foi um jogo de luta, acredite.

Focado na cooperação entre dois jogadores, seja online ou offline, It Takes Two nunca dependerá do talento individual de alguém. Ao longo da jogatina, tudo se torna mais fácil quando um ajuda o outro. Afinal, a própria história gira em torno de mostrar como Cody e May, o casal principal, podem se reconectar trabalhando juntos.

Uma missão que evidenciou a importância do trabalho em equipe, no meu caso, foi a da imagem acima. Nessa sessão, meu irmão (que foi obrigado a me ajudar com essa análise) controlava um avião enquanto eu lutava contra um esquilo. Durante o trajeto, as nossas vidas estavam nas mãos um do outro. Se eu morresse lutando contra o general felpudo, nós perderíamos. Se ele batesse o avião, nós perderíamos. Naturalmente, perdemos duas vezes: falhamos cada um uma vez.

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Mei parada de cabeça para baixo enquanto Cody é apenas aquele pontinho verde.

Surpreendentemente, tanto a mecânica de pilotagem quanto as de luta funcionaram super bem simultaneamente. Atenção aos detalhes talvez seja a principal qualidade da Hazelight, que conseguiu incluir muitos outros estilos de gameplay além desse e sempre de maneira satisfatória. Quando foi necessário atirar, as armas funcionaram exatamente como deveriam. Quando ganhamos imãs para nos aproximarmos e afastarmos dos objetos do cenário (e um do outro), os enigmas foram igualmente charmosos.

Poucos jogos oferecem tanto conteúdo mantendo qualidade e criatividade conforme novos desafios são apresentados. Aliás, mesmo em meio a esse tsunami de mecânicas, a equipe ainda conseguiu se dedicar o bastante aos cenários para que certas paisagens fossem de tirar o fôlego. Montar no peixe gigante que você vê abaixo e apreciar a iluminação conforme novos ambientes eram apresentados foi inacreditável.

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Enquanto Cody e May se equilibram na montaria, tente reparar na paisagem quando for jogar.

A integração entre jogabilidade e narrativa, por incrível que pareça, funciona melhor do que a história em si. O desenvolvimento da trama é previsível, sim, mas a jornada se torna muito mais bonita conforme percebemos na prática quão mais entrosados Cody e May estão após passarem tanto tempo juntos e enfrentarem desafios bizarros.

Não posso dizer que me apeguei pessoalmente a eles enquanto personagens, principalmente, considerando que ambos torturaram um elefante de pelúcia super amigável. Na boa, depois dessa cena, minha vontade era jogar Cody e May em direção ao abismo e abandoná-los lá. Mas tudo bem, isso é um detalhe… Ou não. Eles realmente não são as pessoas mais simpáticas do mundo.

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Lembra quando It Takes Two virou Diablo?

Quando chegamos à reta final de It Takes Two, confesso que as constantes intervenções do livro de conselhos amorosos que conhecemos como Dr. Hakim começaram a encher o saco. Ele era um personagem engraçado no começo, tolerável no meio da história, mas, eventualmente, as aparições dele se tornaram desnecessariamente numerosas.

Mais graves do que o excesso de aparições inesperadas do Dr. Hakim foram as novas e enormes sessões que surgiram quando o jogo parecia estar chegando no final. Achou que a luta contra o macaco de pelúcia era a última? Achou errado, otário. Tome aqui mais quatro mundos para visitar, cada um com um pedaço de uma carta.

Entendo que a equipe tenha se empolgado com a quantidade de boas mecânicas que conseguiu implementar. Ainda assim, muitas sessões poderiam ter sido cortadas ou, pelo menos, encurtadas. Em vez de obrigar os jogadores a escalarem três torres na fase das montanhas de neve, bastava uma. Em vez de obrigar o jogador a buscar uma plateia para o grande show de May, bastava reunir os instrumentos.

Quem deve jogar esse game?

Se você faz parte do grupo que está sempre reclamando da falta de opções em relação aos jogos cooperativos locais, It Takes Two é uma experiência fundamental. São poucos os jogos que tornam tão crucial a sincronia entre os jogadores para que seja possível avançar. E, obviamente, caso você não more com pessoas que gostem de jogar, existe a opção de convidar alguém para jogar online. Seja conectado ou não, estar acompanhado é importante. Só assim você aproveitará todo o potencial do jogo.

It Takes Two brinca com todos os gêneros possíveis, ainda que mantenha o DNA de um jogo de plataforma durante a maior parte do tempo. Ao longo da jogatina, jogadores terão a chance de acompanhar não apenas uma história com que poderão se identificar facilmente como também passarão por desafios absolutamente imprevisíveis. Nunca sabemos quais serão as habilidades de Cody e May na fase seguinte ou quais serão os enigmas apresentados. Fugindo de um dos maiores problemas da indústria atualmente — a repetição desnecessária —, It Takes Two pode até pecar no ritmo da narrativa, mas nunca deixa de nos surpreender e engajar com novos desafios e opções de jogabilidade.

Fonte: Via IGN