Os anos 2000 foram maravilhosos para as crianças e adolescentes que adoravam desenhos de super-heróis. Sucessos no Cartoon Network e no Bom Dia & Companhia, no SBT, Super Choque, Liga da Justiça e X-Men Evolution formavam uma trinca de animações que eram exibidas em sequência na TV aberta. Enquanto X-Men Evolution e Liga da Justiça se valiam muito da popularidade de personagens já icônicos da cultura pop, Super Choque tornou popular no Brasil um personagem pouquíssimo conhecido fora do nicho dos quadrinhos dos Estados Unidos.

Os três desenhos foram extremamente populares por aqui, tiveram todas temporadas exibidas nas TVs aberta e fechada e foram reprisados de forma quase ininterrupta por anos, até finalmente saíram do ar. Vinte anos depois, porém, qual deles foi de fato o melhor desenho? É isso que vamos discutir neste artigo. Em todo caso, é preciso frisar que as três séries animadas são excelentes, cada uma com seus méritos, que vão desde evolução de personagens até a grandiosidade das cenas de ação, e as opiniões sobre qual dos três era o melhor tendem, naturalmente, a variar.

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3º lugar: X-Men Evolution

x men evolution 02 2ada - Super Choque, Liga da Justiça ou X-Men Evolution? Qual foi o melhor desenho de super-heróis dos anos 2000?
X-Men Evolution apresentou versões mais joven dos X-Men

Diferentemente da animação dos anos 90 ou até mesmo dos filmes dos anos 2000 dirigidos por Bryan Singer, X-Men Evolution resolveu dar uma roupagem diferente à maioria dos personagens. Com exceção de mutantes como Professor Xavier, Wolverine, Tempestade, Fera, Mística e Dentes de Sabre, todas as demais versões do icônicos personagens da Marvel eram adolescentes ainda em fase de desenvolvimento e domínio dos próprios poderes.

Nos anos 2000, mutantes como Ciclope, Jean Grey, Noturno, Vampira e outros já eram bastante conhecidos nos quadrinhos e mais velhos, e um desenho focado em uma fase em que esses personagens ainda não eram tão poderosos e maduros quanto em outras mídias se mostrou uma decisão de roteiro extremamente acertada.

Os conflitos, em grande parte, eram de escala muito menos grandiosa, e muito mais focados nas relações de amizade ou rivalidade entre os personagens. O romance conturbado entre Lince Negra e Avalhanche, a rivalidade entre Mercúrio e Spyke e o próprio processo e autoaceitação de noturno com a própria aparência ganham destaque na tela.

Diante disso, mutantes mais velhos, como Fera, Wolverine e Tempestade, tiveram bem menos espaço na trama, embora todos tenham recebido arcos próprios em alguns episódios. X-Men Evolution não se notabilizou por cenas de ação grandiosas ou lutas muito inspiradas, mas certamente foi uma excelente porta de entrada para que muitas crianças e adolescentes se interessassem em conhecer mais daqueles personagens.

Apesar de alguns tropeços aqui e ali, o desenho não perdeu de vista que, mais do que uma rivalidade entre os X-Men e a Irmandade de Mutante, eram o preconceito e discriminação da humanidade os grandes adversários a serem batidos. Felizmente, X-Men Evolution teve um encerramento em alta, com um ótimo arco envolvendo a luta dos mutantes mais jovens contra o mutante Apocalipse e versões de corrompidas justamente dos mutantes mais experientes e poderosos, como Xavier, Magneto e Tempestade.

2º lugar – Liga da Justiça/Liga da Justiça Sem Limites

liga da justica fauu - Super Choque, Liga da Justiça ou X-Men Evolution? Qual foi o melhor desenho de super-heróis dos anos 2000?
Liga da Justiça é um dos melhores desenhos de super-heróis das últimas décadas

Mais do que nos cinemas, é nas animações que a DC costuma fazer as melhores adaptações de seus personagens dos quadrinhos. Superman e Batman foram prova disso nos anos 90, mas em Liga da Justiça e Liga da Justiça sem limites a DC elevou ainda mais patamar de suas séries animadas, seja na parte artística ou na grandiosidade das lutas.

Com um grupo diversos de personagens com personalidades bem distintas entre si, Liga da Justiça trabalha com versões já bem experientes e estabelecidas da maioria dos heróis. Algumas mudanças em relação às versões mais conhecidas dos heróis, inclusive se mostraram grandes acertos, com John Stewart assumindo o manto do Lanterna Verde no lugar de Hal Jordan e a Mulher Gavião de Shayera Hall substituindo o posto normalmente ocupado pelo Gavião Negro nas principais HQs da DC.

As alterações se mostraram extremamente acertadas, e não demorou para Stewart e Shayera caíssem nas graças do público após uma resistência inicial. Mais do que uma cópia em carbono dos quadrinhos, Liga da Justiça se destacava pelo relacionamento bem construído entre os personagens, vilões marcantes, arcos de história ágeis com tensão e reviravoltas e lutas extremamente grandiosas, claramente alguns degraus acima de outras produções da época.

Não era só na grande escala, porém, que o desenho se destacava. O episódio de abertura de Liga da Justiça Sem Limites (sequência direta de Liga da Justiça), “Para o Homem que Já Tem Tudo”, mostra um parasita que se alimenta dos desejos mais profundos de cada um dos super-heróis, especialmente Superman. Por mais que se tratasse de uma ilusão, e “perda” pela qual o Homem de Aço passou foi tão dolorosa que ele entrou em estado de fúria contra Mongul. O episódio com um mundo destruído e dominado por Vandal Savage é outro ponto alto do desenho, além da icônica luta entre o próprio Superman e Darkseid em plena Metrópolis.

De arcos mais focados no lado mais íntimo e sentimental dos personagens a episódios com lutas cheias de ação e feitas em grande escala, Liga da Justiça e Liga da Justiça sem Limites foram um marco das séries animadas para super-heróis e continuam, merecidamente, ocupando um lugar especial no coração de muitos fãs.

1º lugar: Super Choque

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Super Choque foi o Miles Morales antes do Miles Morales

No começo dos anos 2000, não era comum que personagens pouco conhecidos dos quadrinhos ganhassem animações de alto orçamento, mas Super Choque foi uma agradável e muitíssimo bem-vinda exceção, e as quatro temporadas da série animada provaram o quanto a produção também caiu nas graças do público. A trama é focada na vida do adolescente Virgil Hawkins, que aos 14 anos adquire poderes estáticos e elétricos após ser exposto ao vazamento de uma substância tóxica durante uma briga de gangues, na qual só decidiu se envolver para parar de apanhar de um valentão da escola chamado Francis Stone.

À primeira vista, as semelhanças entre Virgil e Peter Parker, o Homem-Aranha clássico dos quadrinhos, parecem bem claras, e realmente são. A obra criada originalmente para os quadrinhos por Dwayne McDuffie (também roteirista da série animada), Denys Cowan, Christopher Priest, Derek T. Dingle, porém, também abordou uma série de temas que não podiam ter tanto destaque nos quadrinhos do Cabeça de Teia.

Super Choque tem a temática racial intrinsecamente ligada à obra, seja nos quadrinhos ou na animação, e esses debates permeiam toda a série, mas de forma extremamente equilibrada com humor, amizade, romance, conflitos típicos de um adolescente em desenvolvimento e cenas de ação, com o perdão do trocadilho, eletrizantes.

Sim, Super Choque aborda o tema do racismo na obra de forma evidente, inclusive partindo do pai do melhor amigo de Virgil, o jovem e carismático Ritchie (Gear) mas felizmente não se restringe a isso. Um dos principais equívocos em muitas obras da cultura pop é resumir personagens negros ao racismo que sofrem, mas a animação roteirizada por Dwaine McDuffie não comete esse erro.

As guerras de gangues, a violência, os laços familiares e de amizade dão o tom da obra e mostram o próprio amadurecimento de Virgil e outros personagens ao longo de quatro anos. O protagonista nunca deixa de viver como um adolescente deveria, e o trabalho como Super Choque é apenas uma parte de Virgil.

O episódio em que Super Choque volta acidentalmente no tempo e tenta de tudo para evitar a morte da própria mãe é um dos mais tocantes da série, assim como o capítulo em que Ritchie é baleado por um colega de escola que tem acesso a uma arma com enorme facilidade discute um dos principais problemas da sociedade dos Estados Unidos e sua cultura pró-armamento.

Para além dos temas densos, Super Choque nunca perde de vista que uma animação para crianças e adolescentes precisa ser divertida e ter leveza, ação e aventura. Tudo isso está presente na obra, que se destaca pelo desenvolvimento de todos os seus personagens com algum destaque, do protagonistas ao coadjuvante.

Hoje, Super Choque não tem mais a mesma popularidade do começo dos anos 2000, mas quem sabe o futuro filme do personagem, quando finalmente sair do papel, não pode fazer o personagem conquistar tantos holofotes quanto Miles Morales, que foi criado por Brian Michael Bendis em 2011 e tem se consolidado como um dos super-heróis mais populares dos últimos anos? Que uma boa adaptação esteja a caminho.


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Fonte: Via IGN