Existe maior comprometimento do que decidir começar uma série com 9 temporadas? Perdi a conta de quantos amigos me indicaram The Office nos últimos anos. Era daquelas séries que “tavam na lista”, mas definitivamente não eram prioridade. Que saco, tanto hype em torno… e mil e uma novas séries saindo a cada minuto. Vocês sabem do que eu estou falando, né?

Não lembro exatamente qual foi o impulso que me levou a dar play em The Office, em fevereiro deste ano. A série, lançada originalmente entre 2005-2013, que nunca havia me fisgado enquanto estava no ar, passou por uma forte revisitação entre 2020 e 2021, durante a pandemia da Covid-19 – não é curioso pensar que o home office e a distância do escritório… nos fez querer viver a Vida de Escritório?!

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Finalmente nos encontramos, Michael Scott. E entendi qual era o tal constrangimento causado por sua pessoa. Imagem: Divulgação

Enfim, acho que quis fazer parte de mais essa conversa. E digo com tranquilidade: melhor decisão que tomei, em termos de o que assistir em meio a tantos streamings e opções no cardápio. Valeu cada segundo, riso, choro e “não acredito que eles fizeram/falaram isso” que eu mentalizei.

“Comecei a ver The Office. Este é o começo de uma jornada que parece ser incrível. Possivelmente life-changing”, disse, no meu Twitter. Era 16 de fevereiro, e minha previsão não poderia ter sido tão acurada. Todo mundo, os mesmos que me indicavam a série, alertavam: “a primeira temporada é ruim, inferior, mas depois melhora”. Ouço opiniões semelhantes com Breaking Bad, que, para mim, é genial do começo ao fim.

Sim, a primeira temporada de The Office, de apenas seis episódios (os quais engoli em um só domingo), é o auge do constrangimento de Michael Scott, que chega a incomodar o espectador com os comentários e atitudes de uma criança de três anos presa no corpo de um adulto de 30 e poucos, quase 40. Ficção à parte, pessoas desagradáveis e inconvenientes assim existem aos montes, no ambiente de trabalho, no colégio, na nossa ceia de Natal, na fila do mercado… e se não conhecemos ninguém com essas características, pode ser que sejamos essa pessoa.

Mas eu discordo. The Office é impecável do começo até a saída de Steve Carell da série, no fim da 7ª temporada. Depois, continua bacana de assistir, mas um pouco perdida em relação ao que ela quer ser sem Michael.

Aliás, eu sabia que Carrell não ficaria até o fim. É um grande spoiler? É… mas, honestamente, o que importa? Eu não sabia quando ele sairia, quem assumiria a chefia e como seria essa despedida. Na sociedade mais spoilerfóbica que já vivemos, uma sugestão: valorizemos mais o trajeto do que o fato em si. Saber dessa grande mudança me fez encarar cada episódio de The Office como uma despedida lenta e vagarosa do gerente regional da Dunder Mifflin produtos de papel, do primeiro papelão dele, na sala com Jim, àquele abraço com Pam, no aeroporto.

Inapropriado sempre que possível, há uma evolução e humanização muito bem escrita e interpretada por Carrell do cara que sempre tratou a todos da Dunder Mifflin como amigos, irmãos, filhos – enfim, familiares. Menos o Toby, coitado. Aquele ciclo social sempre foi o mais importante para Michael, até que ele encontrou o amor que tanto procurava.

“Família”. Essa palavrinha que caiu no nosso vocabulário graças a Velozes e Furiosos. Colegas de trabalho, afinal, convivem muito mais do que membros familiares. Nove horas ou mais diárias, cinco vezes na semana, um ou outro plantão aqui e acolá. Consigo enxergar, nos personagens de The Office, pessoas com quem trabalhei ou trabalho.

Fulano é uma mistura de Dwight com Jim; cicrano está mais para um Michael Scott modernizado – não tão careta, mas ainda sim um pouco cringe; certeza que ele ali é como Angela, emburrado como poucos. Alguém tão excêntrico como Erin ainda estou para conhecer. Quem sou eu em The Office, fica para os outros apontarem.

O que mais vemos em The Office são relacionamentos amorosos – não se engane, fuja dessa cilada de se relacionar com colegas de trabalho. Mas Pam e Jim deram tão certo… o mesmo com Dwight e Angela, ao modo diferenciado dos dois. Droga, como foi duro ver Holly partir… e depois, quando acontece aquilo lá, mas termina daquele jeito! Só que não tem para ninguém, a melhor relação da série todinha não é amorosa: é de Dwight e Jim.

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Dwight e Jim, a melhor relação em The Office. Imagem: Divulgação

Essa rivalidade constante entre o assistente do gerente (não confundir com assistente-gerente) e o piscadinha-para-a-tela é o que movimenta The Office, com cenas memoráveis de um zoando o outro, querendo subir em decorrência do outro – mas sentindo saudade e um vazio na ausência, nas vezes em que há.

Poderia ter “matado” The Office em um mês ou menos. Mas não, quis saborear cada introdução de episódio (nada superará o parkour ou o teste de incêndio de Dwight), aquela abertura (pular os 30 segundinhos é sacanagem, esse crime não cometi!), que só de tocar traz um conforto de quem chegou em casa depois de uma longa viagem. A maratona levou seis meses em meio a gargalhadas desenfreadas, lágrimas e aquele mal-estar provocado pela vergonha alheia.

Eu disse, aqui no IGN Brasil, que Invincible foi a melhor série que assisti em 2021 – e mantenho a afirmação: a mais agradável surpresa que não vi chegando. Mas foi The Office quem esteve comigo durante grande parte do tempo, antes do trabalho, no almoço e pós-expediente.

Nos finais de semana enclausurados, ainda em confinamento social. Quando os amigos estavam distantes, também em suas casas, quem me acolheu foi Michael, Jim, Pam, Dwight, Kevin e todos da Dunder. Por isso, meu muito obrigado. Queria poder retribuir de algum modo também. Vale indicar a série a todos que conheço e que ainda não assistiram?

The Office chegou a mim na hora que tinha de chegar e foi crucial para tornar 2021 mais leve de suportar. Sabia que aquilo iria terminar, que faltavam poucos episódios, enrolei ao máximo… e ainda assim caí no vazio da saudade quando acabou. E quer saber de uma coisa? Vou começar 2022 dando play de novo. Por que dizer adeus e desapegar é sempre mais difícil e menos leve do que começar. De novo.


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Fonte: Via IGN